Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético MG, colocou o dedo numa ferida aberta do futebol brasileiro, que afeta desde o trabalho da imprensa ao governo federal. Trata-se da doação anual de dinheiro da Caixa Econômica Federal, uma empresa pública, ligada às políticas de Estado, aos ditos clubes mais populares.
Em fevereiro, o Corinthians renovou o contrato de patrocínio com a Caixa Econômica por um ano no valor de R$30 milhões, o maior patrocínio de uma empresa a um clube no Brasil. O Flamengo, também patrocinado pela empresa, tem negociações avançadas para a renovação do contrato que vence no final do mês. Outro patrocínio robusto, porém realista, é o do Vasco, com R$15 milhões.
- Patrocínio de estatal para uns e não para outros é coisa muito grave. O atleticano está lá pagando imposto para por "Caixa" na camisa do Flamengo? Para gastar dinheiro com o Corinthians e o meu eu tenho que me virar lá em Belo Horizonte e o Cruzeiro está sem patrocínio? Isso não é motivo de crítica? Eu não entendo a lógica do futebol - reclamou Kalil em participação no programa Bate-Bola da ESPN.
Curiosamente, por claro que esteja o favorecimento com verba pública a determinados clubes, as críticas da imprensa esportiva brasileiro, de forma irônica, recaíram nos últimos anos sobre o contrato da Unimed, uma empresa privada, com o Fluminense, por vezes chegando a fomentar intrigas, mas o silêncio conivente com as doações de dinheiro público a Flamengo e Corinthians, principalmente, é sagrado.
- Falar de Corinthians, de Flamengo, de Atlético e de Internacional não pode. Não tem jornalista louco para falar. Fala do Khalil, fala do Bandeira, que é mais fácil. Mas a Caixa não pode estar na camisa do Corinthians. É crime! Ninguém fala. Nenhum jornalista fala. É claro que é crime! É estatal, é do Brasil. Era Petrobrás, Eletronorte, agora é a Caixa. É farra do governo em camisa? É todo mundo ou é ninguém. Alguém acha correto o Estado patrocinar um clube e não patrocinar o outro? Isso é uma coisa que pode resolver. É o mínimo que você pode pedir para o futebol brasileiro. A isonomia - falou, Kalil, se referindo a uma das providências que deveriam ser tomadas pela nova direção da CBF, comandada agora por Marco Polo Del Nero.
Recentemente, o futebol do Rio de Janeiro viveu um dos maiores vexames de sua história, com a federação local perseguindo clubes com opiniões e orientações diferentes a céu aberto, usando o poder político para coagir os dois clubes de maior pretígio do estado: Fluminense e Flamengo. O que talvez explique a resposta de Kalil ao ser perguntado sobre o papel das federações num projeto de futebol brasileiro.
- Pode rasgar e fechar a porta. Se trancar a porta das federações e jogar a chave fora não muda nada. É zero.
Fonte: Programa Bate-Bola da ESPN.
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